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31 de julho de 2005


Planeta X 

Uma equipa de astrónomos norte--americanos, parcialmente financiada pela NASA, confirmou esta sexta-feira a descoberta do "décimo planeta" do sistema solar. O 2003-UB 313, nome provisório do achado, foi avistado pela primeira vez em Outubro de 2003, através do telescópio Samuel Oschin, do Observatório de Monte Palomar, na Califórnia. Mas só a 8 de Janeiro deste ano os cientistas dos EUA concluíram tratar-se de um planeta. O timing deste anúncio, numa altura em que a NASA se debate com dificuldades na missão espacial Discovery, não terá sido acidental.Segundo Mike Brown, chefe da equipa que fez esta descoberta, "o mero tamanho" desta massa comprova tratar-se de facto de um planeta. A dimensão é calculada pela luminosidade emitida, tendo em conta a percentagem de luz solar que é reflectida. E as observações já realizadas permitiram a estes cientistas concluir que o 2003-UB 313 tem, pelo menos, "o mesmo tamanho de Plutão - cerca de 220 quilómetros de diâmetro, metade da largura dos Estados Unidos -, sendo mais provável que atinja 1,5 vezes a dimensão daquele que era até agora o último planeta conhecido do sistema solar.O novo "planeta", que tal como Plutão é composto de rocha e gelo, encontra-se em plena cintura de asteróides de Kuip, orbitando a cerca de 14 400 milhões de quilómetros do Sol. Em termos de unidades astronómicas (UA, baseadas na distância entre a Terra e o Astro- -Rei), atinge os 97 valores. Planetas a mais? Os dados reunidos serão agora entregues à União Astronómica Internacional (UAI), a quem cabe uma decisão final. Mas para os cientistas norte-americanos, que já propuseram um nome (ainda secreto) para o novo planeta e vão aconselhando as editoras a "reescreverem os manuais", este passo parece não ser mais do que um pro forma. Um optimismo que não tem correspondência deste lado do Atlântico."Há que confirmar primeiro o tamanho", disse ao DN Máximo Ferreira, director do Centro Ciência Viva de Constância. "Não há nenhuma convenção que estabeleça que acima do tamanho de Plutão é planeta e abaixo não é", ressalvou. "Mas se se confirmarem as estimativas, é provável que a UAI lhes dê razão." Uma decisão que deverá levar, "no mínimo, dois anos" a ser tomada.No entanto, é também possível, segundo o astrónomo, que este novo achado venha a relançar o debate sobre o que é ou não um planeta. Plutão, que agora serve de base para a argumentação dos astrónomos norte-americanos, foi reconhecido em 1930 pela UAI, sendo a única contribuição dos Estados Unidos para o mapa planetário do sistema solar. No entanto, há muitos cientistas que ainda hoje questionam essa decisão. Em causa está a massa necessária para um corpo deixar de ser "um calhau achatado e adquirir a forma arredondada de um planeta". Até hoje, não foram identificados outros asteróides que se aproximassem, sequer remotamente, da dimensão de Plutão. Mas Máximo Ferreira recorda que há "mais de cem mil" destes corpos na orla do sistema solar, pelo que é provável que isso aconteça a curto prazo. A questão é se todos os achados serão categorizados como planetas.Assim, a nova descoberta norte-americana até pode ter consequências completamente inesperadas na forma como analisamos o sistema solar "Ou vamos perder um [planeta, Plutão], ou vamos ganhar mais alguns. Para mim, era mais agradável juntar mais planetas aos nove que já conhecemos", confessou Máximo Ferreira.Independentemente das conclusões, o astrónomo português não duvida que o momento escolhido para esta revelação não foi acidental "Há uma certa competição entre a NASA e a Agência Espacial Europeia - e entre os americanos, sobretudo com esta administração, tem havido uma certa pressão para publicar relatórios sobre descobertas."Neste caso concreto, a relevância não está em causa, mas a divulgação pode ter sido precipitada pelos últimos azares da NASA "Não tenho dúvidas de que estas últimas notícias que têm surgido têm a ver com uma certa tentativa de camuflar algumas ingenuidades cometidas nas últimas expedições espaciais americanas", considerou o astrónomo.Quanto ao nome do novo planeta, Máximo Ferreira não duvida de que a escolha "deve sair da lista de divindades da antiguidade" que serviu de base à generalidade do sistema solar. Plutão, devido à distância do Sol (6000 milhões de quilómetros), foi baptizado com o nome do antigo deus romano do submundo. O seu satélite, Caronte, tem o nome do barqueiro que levava as almas para o inferno.